
ESCALAÇÃO
CONHEÇA A HISTÓRIA DOS NOSSOS ONZE PERSONAGENS
RICARDO ALBUQUERQUE

bernardo
gonzález

onã rudá
june ellen
camila
melo
karen graziely
gleyson oliveira
cristian
ariano
rafael lucas
léo silva
lívia ferreira











lívia
@liviaferreira1969
Nascida em 1969, na Bahia, Lívia é jogadora, técnica e coordenadora do futebol feminino, presidente da UNALGBT, administradora, poeta, escritora e atriz. Concorreu recentemente ao cargo de Vereadora em Salvador, em uma Co-Candidatura com Onã Rudá, mas não foram eleitos.
De infância difícil, a mãe trabalhava em uma escola da região e teve 12 filhos, 8 deles mulheres. Lívia sempre foi muito habilidosa e, por conta da influência familiar, é apaixonada pelo Esporte Clube Bahia.
Aos 12 anos foi pela primeira vez a Arena Fonte Nova, levada pelo irmão: “Quando cheguei ao estádio, percebi que dava pra contar nos dedos o número de mulheres. Ambiente completamente de homens.”, contou Lívia.
Nesse mesmo período foi morar dentro da escola que a mãe trabalhava, por não terem condições de pagar aluguel. No local tinha um pátio, onde jogava futebol e brincava de outras coisas. Certa vez, estava jogando e recebeu o convite para treinar no ADLA, clube da região, e aceitou. O clube treinava no Dique do Tororó, em frente a Arena Fonte Nova.
Com o tempo, as pessoas começaram a olhar diferente, pelo fato de Lívia ser mulher. “O descaso com o futebol feminino é gritante. Quando comecei a jogar, fui hostilizada.”, declarou a atleta.
Infelizmente, o irmão que a levava para os jogos faleceu, vítima de afogamento. Com isso, Lívia se afastou um pouco dos estádios, por conta da idade.
Aos 18 anos, voltou a frequentar a Arena Fonte Nova, e relembrou um episódio triste que ocorreu com duas amigas: “Me chamaram para ir para o jogo, eu não quis. No caminho 3 homens agrediram as duas, dizendo que elas iriam aprender a gostar de homem (...) Ser agredido pelo simples fato de você ser é ridículo.”
Ficou sem jogar futebol entre 89 e 94, quando retornou ao ADLA. Convidadas a disputarem o Campeonato Brasileiro em Goiás, viram a falta de apoio da Federação Baiana dificultar a participação no torneio.
Hoje, membro do LGBTricolor, Lívia frequenta a Arena Fonte Nova com Onã Rudá, e lutam por um futebol para todos. “A nossa luta não é por uma marca, não é por uma camisa. A nossa luta é pelas vidas.”, disse a torcedora.
cristian


@cristian_ariano
@bigtboys_fc
Cristian Lins tem 46 anos, é homen trans, carioca, fotojornalista, botafoguense, militante LGBTQIA+ e criador do BigTBoys, o primeiro e único time de homens trans do Rio de Janeiro, e criador do CarnaTrans, primeiro bloco de carnaval Trans do Rio de Janeiro. “Sempre fiz do esporte um grande refúgio, uma abertura para ter contato com as pessoas”, disse Cristian.
Em 2016, após anos vendo as pessoas da comunidade LGBTQIA+ obrigadas a se esconderem para não serem vítimas de preconceito, começou a idealizar o projeto da criação do BigTBoys. O nome escolhido significa “Grandes Meninos” e o “T” vêm da testosterona, injetada por homens trans.
Após um tempo lançou uma chamada, em um grupo do Facebook, já com imagens de uniforme e logo. No dia 11 de abril de 2019 nascia oficialmente o BigTBoys. No início, com parceria com o Parque de Madureira, 22 atletas homens trans começaram a treinar de sexta e sábado.
O time cresceu, virou uma família. Conseguiram preparador físico, técnico e realizaram o primeiro amistoso do Brasil de futebol de homens trans, contra um time de São Paulo. Foi criada também a parte social, recebendo doações das pessoas para ajuda nos custos com material esportivo e passagens.
“Somos um time único. Fico orgulhoso de ver o time crescendo e sendo uma base para homens trans serem vistos, praticando esporte por um time só deles, sem medo.”, relatou o fotojornalista.
Com a pandemia, os treinos pararam. A ideia agora é criar uma liga só de times de homens trans. “Lutar por eles e por outros atletas sempre será minha meta. O esporte é direito de todos. Estou na torcida para que novos times trans sejam criados, para crescermos ainda mais.”, destacou o carioca.


onã
@onaruda2
Onã Rudá tem 30 anos, é baiano e mora em Salvador. É estudante de jornalismo, fundador da Torcida LGBTricolor, do Esporte Clube Bahia, do Coletivo Nacional de Torcidas LGBT Canarinhos Arco-íris, ex-funcionário público, Diretor da União Nacional LGBT da Bahia, Coordenador da Área de Esportes da Aliança Internacional LGBTi e Co-Candidato a vereador em Salvador nas eleições de 2020, junto a Lívia Ferreira.
Bahia desde sempre, influenciado pela mãe, foi para a Arena Fonte Nova pela primeira vez aos nove anos, junto a seu pai. Também jogava muito futebol, e relembrou o time que criou na quinta série, o “The PopStar Of Football”.
Entre a adolescência e a fase adulta, largou a prática do esporte. Tentou suicídio, por conta das dificuldades e preconceitos relacionados à sexualidade. Tornou-se crente e começou a frequentar a igreja: “Tentei mudar quem eu sou a partir dos elementos que compõem a Fé”, contou Onã. Saiu da Igreja pouco tempo depois.
Passou na UFRB, para o curso de Biologia, e começou a morar com o amigo Lucas, que também faz parte da comunidade LGBT. Ali se assumiu e começou a trajetória nas lutas e movimentos sociais. “Apesar de ter escondido, a sexualidade sempre deu a tônica da minha vida, meu corpo gritava.”, relatou o fundador da LGBTricolor.
Primeiro, foi diretor do Núcleo Loreta Valadares, depois Diretor de Comunicação da União dos Estudantes da Bahia. Por fim chegou ao cargo de Dirigente da União da Juventude Socialista e passou pelo Conselho estadual da Juventude e Conselho Universitário da UFBA.
Amigo e admirador de Jean Wyllys, Onã destacou a forma como o ex-deputado federal foi embora do Brasil sem ao menos ter atenção: “Ele recebia ameaças diárias, teve que colocar seguranças na porta da casa da mãe por conta de LGBTfobia. (...) Jean é uma figura que abriu portas para que eu e outros da comunidade LGBT possamos nos candidatar a algum cargo do governo.
Onã Rudá foi um dos principais articuladores em torno da luta pela aprovação da Lei Teu Nascimento (Que pune a LGBTfobia em Salvador), lei que ele mesmo escreveu. “Quando escrevi a lei, não imaginei que pudéssemos ter uma lei sancionada, aprovada e regulamentada, principalmente por conta do atual governo.”, revelou o estudante de jornalismo. Também é idealizador da lei Millena Passos, que prevê penalidades a estabelecimentos públicos e privados, por atos de seus proprietários ou funcionários,
que discriminem ou adotem atos de intimidação, violência física, verbal ou omissão de socorro para pessoas em função de sua orientação sexual ou identidade de gênero.
Com a Torcida LGBTricolor, tem aproveitado o ambiente criado por seu clube e levado o debate sobre as reconfigurações das relações no futebol, sem violência, sem preconceito e sem discriminação. “O Bahia está inaugurando um novo momento na leitura do que é futebol.”, contou Onã.
Com relação à Co-candidatura a Vereador de Salvador junto a Lívia, Onã não foi eleito.


léo
@sacdoleo
Leonardo Silva é portiguar, ABCdista, estudante de audiovisual, Diretor de diversidade e secretário geral da Camisa 12 do ABC-RN, militante do coletivo Fora de Ordem e trabalha na equipe da subsecretaria da juventude do estado do Rio Grande do Norte.
É torcedor do ABC desde sempre, por conta da influência familiar: “É o primeiro amor da minha vida, brinco até com meu companheiro. Antes de saber o que é futebol, já existia meu amor pelo ABC.”, disse o potiguar.
No início de 2020, um torcedor do ABC foi alvo de LGBTFobia ao vazarem um vídeo íntimo com o companheiro. Léo prontamente defendeu o rapaz, e também foi vítima de ataques. Assumido há cerca de um ano e meio, o produtor audiovisual teve fotos vazadas e ameaças nas redes sociais. “Quando a gente lida com pessoas que não tem nada a perder, a gente sempre vai temer. Fui para outra cidade por medo.”, relatou Leonardo.
Tendo em vista o episódio, surge a proposta da torcida Camisa 12 para que seja criado o cargo de diretor de diversidade. Léo foi convidado e aceitou. No dia 17 de Maio de 2020, foi oficialmente anunciado no cargo, exatamente no Dia Internacional do Combate à Homofobia. (Imagem do anúncio nos slides acima) “A Camisa 12 sempre foi uma torcida que deu opinião pública e política, tenho muito orgulho de fazer parte”, destacou.
Por conta da pandemia, Léo ainda não sabe como será a receptividade do torcedor ABCdista no estádio Maria Lamas Farache (Frasqueirão), após assumir o cargo de diretor de diversidade.


bernardo
@ber_GonzaleS
Bernardo Gonzales tem 31 anos, é paulista, professor de física formado na USP, colunista do Ludopédio e do Mídia Ninja e se considera jogador amador de futebol e futsal. Bio-designado como do gênero feminino quando nasceu, aos 25 anos se identificou como transmasculino.
Sempre gostou muito de jogar futebol, não tanto de torcer. Era Corinthiano, mas por conta da violência parou de acompanhar o clube. Quando pequeno, jogava tranquilamente, mas ao crescer a prática foi muito cerceada, por ser lido socialmente como menina.
Aos 15 anos, foi atropelado e quebrou um dos joelhos: “Por ser menina e pobre, ser jogadora já era muito difícil. Quando sofri o acidente, era a época de entrar em um clube, isso acabou atrapalhando.”, relatou.
Como professor, começou a atuar em 2012, sempre com o objetivo de ensinar em escolas públicas. Mesmo lecionando física, discute sobre diversos assuntos sociais em aula: “Minha prática não está associada exclusivamente ao conteúdo que se ensina, pois ele não está alheio aos direitos humanos”, disse Bernardo.
Esses assuntos inclusive já causaram a demissão de Bernardo de uma escola. A direção acreditava que o ensino estava unicamente associado à física, e, mesmo que de forma indireta e dando outra justificativa, demitiu Bernardo.
Quando fez a transição em 2015, voltou a jogar futebol, quando integrou um time exclusivo para homens transexuais e pessoas transmasculinas. “Consegui ressignificar o esporte no futebol transmasculino”, comentou.
No mês de Outubro, Bernardo foi mediador de uma live com o Museu do Futebol, em
parceria com a Ligay Nacional de Futebol, cujo assunto era o futebol LGBTQIA+.
GLEYSON
@gleysonoli


De Belém do Pará, Gleyson tem 38 anos, é Torcedor do Paysandu Esporte Clube, criador da Torcida LGBTQIA+ Papão Livre, presidente do Grupo Olivia, militante LGBT há 20 anos e historiador formado na UFPA.
Muito apaixonado por futebol e pelo Paysandu, desde os 14 anos entende sua orientação sexual, sempre se impondo
como criança LGBT. Aos 16 se assumiu e, mesmo vindo de família evangélica, nunca sofreu preconceito da família.
Na universidade acabou ficando com uma menina, que engravidou. Não havia paixão, só um desejo sexual. “Minha filha cresceu junto da minha militância”, declarou Gleyson. A filha hoje tem 17 anos.
Em 2015 nascia a Papão Livre, Torcida Organizada LGBT do Paysandu. Em 2017, contra o Santos pela Copa do Brasil, um momento importante para a causa LGBT: Foram autorizados a hastear a bandeira LGBT dentro do estádio. “Foi marcante, eu quero ser respeitado enquanto LGBT dentro do estádio.”, disse o historiador.
Entretanto, a fase do Paysandu não era boa. Prestes a cair para a Série C, em um jogo contra o Luverdense, o clube perdeu e torcedores agrediram a Organizada LGBT. “Agressão, roubo, teve até ameaça com arma. De lá fomos direto para a Delegacia de Crimes Discriminatórios Homofóbicos”, contou. A Torcida agressora foi punida e ficou um ano e meio sem entrar no estádio. O Paysandu teve que pagar uma multa.
Isso fortaleceu a Papão Livre, conquistando uma influência dentro do clube. Emplacaram a campanha “Diversidade eu respeito, e você?”, quando jogadores de Remo e Paysandu entraram com uma placa na final do estadual e líderes de torcida deram uma volta olímpica com a bandeira LGBT. Conquistaram também a carteirinha de Sócio Torcedor com nome social para torcedores Trans e acabaram com os cantos homofóbicos dentro do Curuzú, estádio do Paysandu.
“Só vou sossegar quando todos nós LGBTs pudermos estar juntos em um estádio,
sem sofrer nenhum tipo de agressão”, disse Gleyson.


JUNE
@juunesilva
June tem 22 anos, mora em Recife, é torcedora do Santa Cruz, fundadora do Coral Pride Camisa 24, publicitária, fotógrafa e designer. Quando pequena, cantava músicas do Sport, clube Rival, por influência da irmã. Com o tempo, o pai a convenceu a torcer para o Santa.
Começou a acompanhar o Santa Cruz na pior fase do clube, em 2011, quando o cube estava na Série D. Em 2016, quando voltou para a Série A, deu um tempo na vida de torcedora. “Minha história é engraçada, eu torci muito na fase ruim e na fase boa larguei. Agora que a fase está ruim de novo, voltei”, disse June.
Já conhecida pelo clube, foi convidada no dia dos 106 anos do Santa Cruz (03/02) para participar da campanha Santa de Todos, onde inclusive fez parte do vídeo de divulgação. Surge então a ideia de criar o Coral Pride, em Março de 2020.
Inicialmente, receberam muitos ataques, mas logo veio a primeira conquista. Na final do estadual, conseguiram colocar a bandeira LGBT no estádio.
June lembrou também do episódio com o ex-técnico do Santa Cruz, hoje no Criciúma, Itamar Schulle. Em entrevista coletiva, o técnico, além de expor a situação do clube, deu uma declaração homofóbica. Perguntado sobre a insistência na escalação do jogador Jeremias, o técnico disse: “Só falta vocês dizerem que sou viado, que tenho caso com o Jeremias”. Após a demissão, o Santa melhorou o aproveitamento e hoje está perto de conseguir o acesso para a Série B. “Dei glória quando o Itamar saiu,
melhorou muito”, revelou June.
A pandemia atrapalhou a continuidade do trabalho da Coral Pride, mas continuam com projetos e propostas visando o bem dos torcedores LGBT Coralinos.
CAMILA
@camilinhameloo


Camila tem 23 anos, é mineira, cruzeirense, jogadora do Bharbixas, vice-campeã da Ligay e designer. Desde pequena sempre gostou de jogar futebol, mas as meninas não jogavam e ela não conseguia praticar muito o esporte.
Com oito anos, Camila foi ao Mineirão para assistir ao jogo e iria entrar com os jogadores. Correu para dar as mãos ao goleiro Fábio, que hoje é ídolo do clube. Uma das crianças olhou para ela e falou “Tá fingindo que é menina pra entrar na frente né? Você é menino.”. Camila revelou que estava prestes a abaixar o calção para mostrar que era menina.
Ficou muito tempo sem jogar, muito por conta das piadas machistas e pela falta de mulheres que praticavam o esporte. Teve depressão, esqueceu o futebol e encontrou na música um refúgio. “Nós mulheres que jogamos, é por amor. É muito difícil, a gente sofre muito, principalmente como LGBT.”, disse a designer.
Voltou a jogar entre a adolescência e a fase adulta. Recebeu o convite para o teste no Bharbixas Esporte Clube, time LGBT que já foi campeão masculino da Champions Ligay. O resultado sairia em uma semana, entretanto, demoraram três para que Camila fosse aprovada, por engano da representante.
“Jogar a Ligay foi especial, é uma festa fora do normal. A causa é muito mais importante que tudo”, declarou Camila, que completou: “Jogar no Bharbixas é demais. Somos um time unido, somos uma família, é tudo muito leve, ninguém solta a mão de ninguém.”.
Foi a primeira Ligay com futebol feminino, e, apesar de ter apenas três times, foi de suma importância.
Camila jogava, além do Bharbixas, em outros quatro clubes, mas teve que sair de alguns por conta da pandemia, falta de tempo e desempenho. Em um dos clubes, ao avisar que não jogaria mais, foi assediada pelo treinador (Print da conversa no slide de imagens).
Hoje, além do trabalho de designer, cuida das redes sociais do Bharbixas Esporte Clube.


RAFAEL
@rafflucas
Rafael tem 25 anos, é carioca, torcedor do Clube de Regatas Vasco da Gama, membro da Torcida Vasco LGBTQ. É também engenheiro, uma das primeiras pessoas da família dele com diploma de ensino superior.
Criado na Baixada Fluminense, parte da família vem de Portugal e por isso a influência para ser vascaíno. Não gostava tanto de futebol quando pequeno e nem jogava. Considera-se torcedor de verdade a partir de 2009, na campanha da Série B. O tio o levou ao Maracanã, quando o Vasco ganhou de 2x1 do América de Natal-RN, e se apaixonou pelo clube. Hoje é sócio-torcedor, dos jogos como mandante assiste quase todos e até viaja para acompanhar o clube.
Ficou sabendo da Vasco LGBTQ pelo Twitter e foi convidado por Eduarda e Beatriz para participar. É o membro que mais frequenta os estádios e vê um crescimento nas torcidas organizadas LGBT. Porém, enxerga que os clubes se manifestam apenas por marketing: “Não que as datas não sejam importantes, mas a diversidade tem que estar estampada na cara do clube”.
Rafael estava presente no jogo Vasco x São Paulo, quando o árbitro Anderson Daronco paralisou a partida por conta dos gritos homofóbicos direcionados pela torcida vascaína aos são-paulinos. “Me lembro que era parte da torcida sendo homofóbica e a outra parte tentando parar. Foi simbólico, mas sem efetividade. Os cantos não pararam.”, declarou Rafael.
KAREN
@karengraziely


Karen tem 27 anos, mora em Salvador com a irmã e a mãe, é Flamenguista, membro da FlaGay, criadora do Fla da Diversidade e trabalha como atendente de Call center. Desde muito cedo foi apresentada ao futebol pela família: “Conheci o futebol por conta dos meus avôs, naquele típico almoço de domingo”, disse a flamenguista.
O Flamengo vem por conta de um vizinho fanático apelidado de Flamenilson: “Ele me marcou muito, muito mesmo. A casa dele é inteira rubro-negra e eu sempre assistia aos jogos lá. Ele tem tatuagem, usa a camisa do clube para tudo, vai para a Igreja para rezar pelo Flamengo e pensa inclusive em mudar o nome dele no cartório para Flamenilson”, revelou Karen.
Desde muito cedo já sentia que não era como as outras meninas. Quando jogava bola percebia os questionamentos dos outros. “A pressão sobre a gente é enorme, o LGBT tem que ser bom em tudo para ser visto. É uma luta diária, eu acordo lutando e vou dormir lutando.”, declarou. Entretanto, o processo de aceitação e entendimento foi se tornando tranquilo com o tempo.
Criou a Fla da Diversidade, mas com o tempo a página foi perdendo a frequência de postagens. Entrou para a FlaGay quando o coletivo já fazia parte da Canarinhos Arco-Íris. Também comenta os jogos na Página Inflamados, de torcedores do Flamengo. “Sempre falo com o dono da página sobre a importância de me dar esse lugar. Não só por ser mulher, mas pela orientação sexual também. É extremamente importante”, relatou.
Karen reclamou da falta de diálogo entre clube e torcedores: “O clube tem que entender o torcedor LGBTQIA+. Temos que ser vistos, somos uma torcida LGBT do time com maior torcida do Brasil.”.
Ricardo


@ricardo_albuqueruqe16
Ricardo tem 25, é de Belém do Pará, torcedor do Paysandu, estudante de turismo e agente de viagens. Entrou para a Papão Livre há cerca de dois meses.
Diferentemente da maioria das pessoas, Ricardo começou a se interessar pelo futebol tarde, em 2014, quando a Copa Verde iniciou. Seus familiares estavam assistindo ao jogo
entre Paysandu e Princesa do Solimões, quando parou para acompanhar. “Daí pra frente eu não parei mais. Quando fui ver, já estava tirando dinheiro do meu bolso para comprar ingresso, para virar sócio, para comprar camisa. Fiz coisas pelo Paysandu que nunca imaginei fazer.”, declarou Ricardo.
Um momento marcante na vida de torcedor de Ricardo foi a final da Copa Verde de 2018 entre Atlético Itapemirim e Paysandu. Ele fazia estágio dentro do Mangueirão, palco da final, e foi chamado para trabalhar na hora do jogo. O gol do título do Papão foi feito no gol próximo de onde estava trabalhando.
Entretanto, Ricardo nunca sentiu a liberdade a liberdade de ser quem é nos estádios. “Entrar para a Papão Livre é uma primeira iniciativa para que eu me sinta mais confortável, apesar de eu ainda entender que somos apenas um Coletivo, e não uma organizada.”, revelou.
Ricardo tem orgulho de torcer para o Paysandu por conta do engajamento do clube: “É excepcional que o clube veja isso, se nada for provocado, nada muda.”
LIGAY
A associação foi criada em 2017 pelas equipes semiprofissionais BeesCats, que é carioca, e as paulistas Unicorns e a Futeboys, até então os únicos times gays de futebol society no país. Assim, foi fomentada a criação de outras equipes Brasil afora, nascendo quatro novos times logo depois. Com isso, formou-se a LiGay Nacional de Futebol, reunindo oficialmente os times gays de futebol do país. O primeiro vencedor foi o Bharbixas.
Hoje a Ligay conta com times masculinos e femininos e vem crescendo cada dia mais. A próxima edição ocorrerá em São Paulo após a pandemia, de acordo com o presidente da associação.
CANARINHOS ARCO-ÍRIS
O Coletivo Nacional de Torcidas LGBTQIA+ Canarinhos Arco-Íris foi fundado em 2019 por Onã Rudá, fundador também do LGBTricolor. Com objetivo de democratizar o futebol, o coletivo vêm crescendo e hoje conta com 16 torcidas LGBTQIA+ no total.
Em 2020, lançaram o Observatório Nacional da LGBTfobia no Futebol, que trabalha como uma ouvidoria para torcedores em casos de discriminação no futebol. As informações serão compiladas e entregues periodicamente ao STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) e outros órgãos cabíveis.
OUÇA O PODCAST DOS BASTIDORES
PODCAST DO LANÇAMENTO OFICIAL COM OS PERSONAGENS

@pedrogomesfecchio
SOBRE O CAMISA 24
Criado por Pedro Fecchio e João Simões, o Camisa 24 é uma reportagem especial para a faculdade. Somos estudantes do segundo semestre de jornalismo da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação.
O nome do site vem da simbologia do número 24 nas lutas LGBT, tendo em vista o preconceito que o número sofre. O 24 foi adotado pelas Torcidas LGBT, com objetivo de mudar o significado do número na sociedade.

@simoes__
agradecimentos
- LÍVIA FERREIRA
- CRISTIAN LINS
- ONÃ RUDÁ
- LÉO SILVA
- BERNARDO GONZALES
- GLEYSON OLIVEIRA
- JUNE SILVA
- CAMILA MELO
- RAFAEL LUCAS
- KAREN GRAZIELY
- RICARDO ALBUQUERQUE
- EDUARDA (VASCO LGBTQ)
- BEATRIZ (VASCO LGBTQ)
- JOÃO ABEL
- JOSUÉ MACHADO
- LILIAN CREPALDI
- WAGNER BELMONTE
- FAPCOM
- ISABELLA GUIDUCCI
- NILSON FECCHIO
- MARIA AMELIA GOMES
- MIGUEL GOMES
- MATHEUS CALEJA
- LUIZ VIEIRA
- BEATRIZ RIBEIRO
- REYNALDO SIMÕES
- ANDREIA SIMÕES